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Poemeto sem título

Ela tem nuvem na boca,
cheiro de jabuticabeira em flor
e leveza de passarinho.
Vez ou outra compomos uma dança juntas.
E os gatos aplaudem do telhado!

Poema para Juliana

Nunca imaginei que o amor pudesse chegar nos olhos castanhos de Juliana.
Eram intensos, baixos e cheios de Sol, de só, de ré,
De pura música.
Olhos de cantar Caetano...

A poesia desenhada sob o azul do alto inverno.
Assim descreveria as curvas dos seus cabelos,
Que soltos pareciam transcrever a luz.
Ela quando me tocou pela primeira vez foi por acaso.
- Eu que não sou de acasos, risco folhas por ela. –

A Juliana tinha cheiro de chuva no fim da tarde,
aquelas chuvas do campo que são acompanhadas pelo som dos grilos e das estrelas se escondendo no céu.
 - Tudo bem, as estrelas não produzem sons, mas a imagem dela no meu rosto muda os sentidos. Talvez nem faça sentido... –
Eu por ela tive apego, apreço e pressa,
Daquelas que se tem quando o estômago rói.
Borboletas roíam todo meu corpo.
Animais coloridos podiam sair dos seus lábios
Que para mim certamente tinham aroma e sabor de amoras frescas e mel.

O mel que traduzia a pele e o doce escondido.
Escondi-me, mas desejo Juliana!

(M.B.)

Há mar Lúcia

Era fato que não amava Lúcia,
mas apenas seu sorriso prendia-me em 
pensamento.
Outrora me disse que no mar os pássaros eram assassinos ferozes.
Era comum vê-la a contar do alto das falésias
os peixes perdendo-se 
dos cardumes e pondo-se a voar,
faziam-no sem asas.

Ela quando via o horizonte cismava em deixar soltos os fios e os pés.
Pedia-me que citasse Byron e acompanhasse em um vinho.
Era sábio recusar, mas me fazia disponível à todos os seus convites.

(M.B.)

Tardes amarelo-ipê

Vômito, vozes.
Aversão
ao verão, aos vazios,
ao não verdes, não seres
- humanos.
Ouvires.
Ânsia marrom,
Confusões coloridas
e estômago virado.
Óculos com lentes alteradas,
alternadas entre esquerdas e direitas.
Ângulos, campos e lentidões.
Cinzas sinistros e árvores sem folhas.
Sem ventos, sem tempo.
Alentos e ipês amarelos.

(M.B.)

Assento

Objeto concreto cheio de abstrações.
Pequenos cortes, arranhões e amassados.
O braço direito um tanto torto.
O esquerdo não vejo.
Talvez por falta de imaginação
ou defeito de fábrica.

(Maralice Boato)

O moço e a janela

Já há pouco abri a janela
e vi elementos novos na paisagem cotidiana.
Os ladrilhos vermelho-marrom numa dança de corpos tortuosos
com azulejos brancos.
O casal de senhores com a TV ligada.
Bromélias floridas na varanda
e saias estampadas no varal.
As brigas nos bares,
os orgasmos das moças e o orvalho.
Tão cedo
sua silhueta e reflexo nos óculos
 unem-se à beleza de sua barba falha.
Um elemento novo, cheio de vida.
Reprodução de uma pintura.
O amante, artista.
A moldura, a janela e toda inspiração.

Maralice Boato

...

Há um mistério nos lábios suaves
que me levam ao interior
dos mais belos bosques.
É como antecipar a Primavera
em dias cinzentos de inverno.
Não vê-la é acender velas
em noites de Lua Cheia.

(M.B.)