Páginas

Tardes amarelo-ipê

Vômito, vozes.
Aversão
ao verão, aos vazios,
ao não verdes, não seres
- humanos.
Ouvires.
Ânsia marrom,
Confusões coloridas
e estômago virado.
Óculos com lentes alteradas,
alternadas entre esquerdas e direitas.
Ângulos, campos e lentidões.
Cinzas sinistros e árvores sem folhas.
Sem ventos, sem tempo.
Alentos e ipês amarelos.

(M.B.)

Assento

Objeto concreto cheio de abstrações.
Pequenos cortes, arranhões e amassados.
O braço direito um tanto torto.
O esquerdo não vejo.
Talvez por falta de imaginação
ou defeito de fábrica.

(Maralice Boato)

O moço e a janela

Já há pouco abri a janela
e vi elementos novos na paisagem cotidiana.
Os ladrilhos vermelho-marrom numa dança de corpos tortuosos
com azulejos brancos.
O casal de senhores com a TV ligada.
Bromélias floridas na varanda
e saias estampadas no varal.
As brigas nos bares,
os orgasmos das moças e o orvalho.
Tão cedo
sua silhueta e reflexo nos óculos
 unem-se à beleza de sua barba falha.
Um elemento novo, cheio de vida.
Reprodução de uma pintura.
O amante, artista.
A moldura, a janela e toda inspiração.

Maralice Boato

...

Há um mistério nos lábios suaves
que me levam ao interior
dos mais belos bosques.
É como antecipar a Primavera
em dias cinzentos de inverno.
Não vê-la é acender velas
em noites de Lua Cheia.

(M.B.)

Poema para o Amor (V)



Gotas do marrom café
na xícara xadrez
mostrando a suavidade no encontro das linhas.
O leite na xícara e sua cor rósea.
Respirei felicidade.

Que o amor venha cedo
e que a partida seja breve.
Que não madrugue
e que dure o tempo necessário para ser eterno.
Que a angústia de não ter-te
não me cause úlceras e vertigens.
E se disseres
sobre os males do amor
direi que morri amando.
(M.B.)

Público

Pássaros famintos, urbanos.
O velho chafariz, seco
Com anjos desfigurados.
Sementes e galhos caem suavemente
Criando melancólicas melodias.
O entardecer frio traz consigo
amores e mentiras.
Nostálgicas memórias, saudade, plantas.
Saudade é planta.
Mas, há de se dizer que saudade é nostalgia.
Aos poetas, indefinições.
Velhos sentidos, memórias recentes
E os muros da praça.
(M.B.)

Padecer


Sinto
e pouco lembro
dos dias sem dores.
Minhas recordações passam por inflamações, injeções
infecções e analgésicos.
Anestesio-me com doses de morfina e de álcool.
Minha mente desacelera,
A dor passa por instantes.
Me envolvo em devaneios e desmaios.
Recomponho-me e pego o cigarro.
Mortalha, fino, papel, palha.
Os suaves efeitos da nicotina.
Esqueço a dor,
meu corpo dormente adormece.

Poema para um amor (III)


Quero amá-la na janela
para verem como é belo
seu sexo no meu.
Quero tocá-la de mansinho
num cantinho, para sentir
seu corpo derretendo em mim.

Quero a boca em minhas pernas
tornando a carne trêmula
Subindo a língua nos lábios molhados.
Unhas vermelhas no tecido branco que cobre o sexo.

Membros erguidos.
Suores, sentidos em sentido horizontal.
A chuva batendo no vidro
no fim do corredor estreito.
As marcas no pulso
o fluxo sanguíneo e a pulsação.

Quero que pulse,
vibre,
dance uma melodia dentro de mim.